terça-feira, 23 de março de 2010

Coisas que me emocionam...


Rodrigo Godoi é meu amigo e mestre em história pela Unicamp . Mandou-me uma linda imagem que eu reproduzo aqui. Disse ele:




"Essa tela foi pintada por Chagall entre 1915-1925, durante seu retorno à Rússia, após uma primeira estada em Paris. Faz parte de uma sequencia de retratos dele com sua primeira esposa, Bella. Quando ela faleceu, em 1944, Chagall passou um longo período sem pintar..."




É de uma beleza lírica.




sábado, 20 de março de 2010

Corujão

Sempre tive muito contato com poesia. É coisa que gosto. Então, a proposta de aula foi fazer a cobertura jornalística de um Sarau de Poesia, em um bar da praia de Charitas, em Niterói. Chama-se Corujão da Poesia. Palco aberto, microfone ligado, o produtor do evento grita “Poesia!” e alguém, qualquer um, nem precisava ser poeta, levanta e recita um poema. Poema inventado ou decorado, musica, dança ou prosa poética. O importante é o encontro, é a intenção de arte, é a vontade de fazer poesia.
Entrevistei o poeta cearense Italo Rovere e ele mostrou um livro feito à mão. Chamava-se “Tatto Amarelo” que segundo o significado que ele próprio atribuiu ao título, significa o “amor de todo mundo para mudar o mundo”. A dificuldade de editar um livro de poesia no Brasil não o desanimou. O que não teve espaço na indústria pôde ser feito de forma artesanal e distribuído em espaços que reúnem amantes da poesia. Assim, como trabalho de formiguinha em lugares onde ele encontrou vozes multiplicadoras da sua arte.

Estava presente, também contando, recitando, cantando, a atriz Bettina Kopp, lançando o seu livro “Corpinturada” ou Cor da Pintura, como pude observar na montagem de cores da capa do livro. Poesia desde o titulo.

Foi realmente a arte do encontro de pessoas que queriam simplesmente ler poesia e admirar juntas as expressões de arte. O evento acontece de 15 em 15 dias, toda segunda-feira, no bar Conversa Fiada que fica na Rua Quintino Bocaiuva em São Francisco, Niterói. Começa às 20 horas e vai até a madrugada. Eu mesmo, saí de lá por volta das duas da manhã e o microfone continuava aberto para mais poesia e musica e arte. Indico e gosto.

Quando eu era gente...

Ouvi essa história entre uma taça de vinho e outra... fiquei olhando para a taça e lembrando, saboreando e constatando que vinho, quanto mais velho melhor. Mas nós, coisa de gente, quanto mais vive, menos se acha. “Minha avó lembrava a juventude e dizia: quando eu era gente...”. Essa pérola surgiu no meio dos vinhos e dos corações abertos e das almas lavadas e das dúvidas e dos pactos de amizade e das promessas de segredo entre três contadoras de estórias transitando pelos tempos e pelos quereres da vida.
QUANDO... Quando é palavra que vive começando frase, e vive começando assunto, e vive atazanando pensamento. Quando eu era pequena, quando eu crescer, quando eu me formar, quando eu conseguir guardar dinheiro e quando, quando , quando... e a gente vive de quandos ... voltas ao passado e projeções de futuro. Palavra que é quase inversamente proporcional a AGORA!
Já reparou que agora é hora que nunca dá tempo? O diálogo é assim: Quando? Agora! Agora? O papo toma um tom de susto que parece absurdo. E você continua: Sim, agora, qual o problema? E aí parece que todos. Parece que não dá tempo ou que a gente precisa pensar ou que há várias pendências paralelas a resolver e parece que... tem que ser depois. Um depois que pode não chegar.
Amanhã eu começo, amanhã eu termino, amanhã eu faço, amanhã será outro dia. E pode ser que amanhã eu não queira o que hoje queria. E aí ... tinha que ser naquela hora, passou o tempo, passou o clima, passou a vontade, passou a vida. Passou gente que não acaba. Porque é vivendo e querendo sem medo que a gente não acaba. Eu tenho é medo de acabar. Então é por isso que eu vivo agora pensando no depois, porque se tem coisa pra depois, eu não posso acabar agora. Entende? E se eu consigo agora? Vivo agora, mas tenho a obrigação de querer mais coisa pra depois. Porque se não, vem de novo aquele medo de acabar... E aí, os sonhos são infinitos e as vontades sempre são supridas pela metade. Uma metade boa claro! Uma metade que quer sempre saber da outra. De outra que precisa de mais vida, de mais luta, de mais gente, de mais sabedoria.
Se bem que a sabedoria é mais calma... Uma calma que não precisa de... Uma calma existencial... Uma calma que dá vontade de gritar, uma calma que irrita! Já reparou que tem calma que irrita? Mas que também tem irritação que precisa de calma. Ambivalências da vida.
Pensei agora que gente nunca é sozinha... Gente começa com dois... Gente, pra ter uma, precisa de duas, já reparou? Gente é coisa em equipe. E dentro de cada gente tem tanta gente... trabalho feito a muitas mãos. E no meio de tanta gente às vezes a gente quer ficar sozinho. Mas é que a lembrança não deixa. É que a gente lembra. Tem coisa que a gente esquece de esquecer. E quando, sem querer, cai no poço do esquecimento, a gente lembra de lembrar...
A gente é muita gente. Onde tem vida, não dá pra ficar sozinho. Solidão e silêncio é coisa da morte. Enquanto tem vida, parece que a cabeça fala e a alma dança por dentro da gente. Parece que tem um livro imenso e uma quantidade enorme de palavras e estórias... Acho que é por isso que eu conto. E conto do meu jeito. Nada de dizer que não foi assim. Foi assim do jeito que eu quis contar. A mentira existe e enfeita a verdade. Tem vezes que a gente tem que ajeitar a verdade um pouquinho... E a mentira deixa tudo tão mais encantador! Mentir é tão mais divertido! É assim: Verdade é o que a gente vive e mentira é o que a gente conta. Uma não vive sem a outra, nem adianta. Eu e meu personagem. Máscaras de encantamento. Verdade absoluta é de uma grosseria terrível! Se alguém te diz com tom ansioso: tenho uma estória pra te contar, você só acha que é verdade porque está desavisado. É claro que é uma estória inventada. Não é o que eu te conto e sim outra coisa. O “exatamente” daquilo que se conta só vai saber quem viveu a experiência. De resto é narrativa. Tem intenção estética. É a arte de encantar. Mentira!
Mas agora está me vindo uma vontade de silêncio... Vou parar de inventar um pouco e deixar você aí criando seus pensamentos com esse bando de gente que te ocupa.